15 junho 2020

O universo é enorme e a situação é ruim

(escute life is like a boat enquanto lê)
Há um tempo atrás eu e minha amiga escrevemos um post sobre o nosso primeiro ano do ensino médio e nossas metas para o ano seguinte. E reorganizando o blog eu comecei a revisar posts anteriores, reescrevendo e concertando os erros gramaticais. No processo, eu acabei lendo essa postagem e decidi que é justo, e porque não, interessante, fazer uma segunda parte: sobre o meu último ano na escola.

2020. 

O início do ano de dois mil e vinte foi recebido com a conversa de uma possível terceira guerra mundial. O twitter enlouqueceu, os brasileiros fizeram memes e mais memes, temerosos, mas nunca sem sua criatividade. E quem diria que o governo do Irã tentaria nos tranquilizar? "Os memes nos salvaram". Logo depois, a Austrália arde em chamas, e 10 milhões de hectares de florestas e 1 bilhão de animais viram cinzas. Em fevereiro, o mundo finalmente acorda para o que vinha acontecendo na China, um novo vírus foi descoberto e já vinha matando centenas de pessoas. Mas, até então, era algo que parecia muito distante, e assim, os brasileiros foram para as ruas celebrar o Carnaval. Chegando Março, os primeiros casos se manifestam no Brasil e, em meio ao preconceito e notícias falsas, aos poucos, o nosso país ia decretando o período de quarentena. Em Abril, os numero não paravam de crescer, ainda não pararam, mas o Governo não está nem aí. Em Maio, os Estados Unidos são sacudidos por uma onda de manifestações que defendem o lema "Vidas Pretas Importam", no Brasil, levantamos debates sobre nossa sociedade imbecil e racista. Por fim, nesse mesmo mês, um protesto fascista ocorreu em Brasília, próximo ao STF.

E como isso interfere na educação? Faz três meses que não pisamos numa sala de aula e a coordenação tenta tapar o sol com a peneira enviando uma tonelada de atividades que nem sabemos se valem alguma pontuação ou são só um tapa buraco mesmo. Saindo de um contexto mais fechado e lançando a vista ao geral, ao país, os conflitos entre o "ministro" da educação e os estudantes não param de acontecer. Em uma das discussões mais recentes, Weintraub, o dito ministro, se recusava a adiar o ENEM, argumentando que a prova é uma competição, que ela "seleciona as pessoas mais preparadas". Só depois de tanto aperrear, lutamos pelo mínimo que alguém na posição dele deveria ter feito: o adiamento. Mesmo assim, ainda não temos certeza para que mês a prova será permutada. 

Esse é o caos que estamos vivendo agora.

Depois dessa atualização, alguém de fora pode ler e pensar: "uau, a situação tá feia mesmo". Não, amigue, está pior. Mas, finalmente chegando ao ponto principal desse post, como o Ensino Médio vem lidando e, principalmente, reagindo com isso?

Bem, em síntese, achamos que: "****** *** ** *******".


Sendo realista, é óbvio que o Brasil está vivendo uma enorme crise em todas as esferas possíveis, e que isso afeta diretamente todos os brasileiros, porém, uns mais que os outros. Eu sinto que posso dizer isso porque é a verdade, e eu vivo isso. Enquanto existem pessoas que estão perdendo outras pessoas, passando por necessidades, paradas em casa sem estudar ou trabalhar e centenas mais de etc., eu estou sentada na minha escrivaninha, aquecida, confortável e usando um computador com acesso à uma boa internet, tenho livros e tv para me distrair e acesso a diferentes formas de estudar. Além disso, moro no interior, onde estou relativamente longe do foco do vírus. A questão é: poucos tem esses privilégios, mas muita gente ainda não entendeu isso. 

Eu sei bem que as coisas que citei ali em cima sempre existiram, não acordamos em um fatídico dia e de repente, um vírus e desigualdade social assolam o país. Mas essa situação foi evidenciada e, acima de tudo, acentuada. Já dizia uma música de anos atrás:
Analisando essa cadeia hereditária
Quero me livrar dessa situação precária
Onde o rico fica cada vez mais rico
E o pobre cada vez mais pobre
E o motivo todo mundo já conhece
É que o de cima sobe e o de baixo desce
Existem diferentes tipos de reação de estudantes, porque existem diferentes tipos de contextos em que estão inseridos; hoje eu venho lhes falar do meu contexto, que embora não represente a grande maioria, existe, assim como tantos outros.

No meu primeiro dia de aula eu estava nervosa com a quantidade de pessoas indo pra lá e pra cá, com a quantidade de pessoas na minha própria sala. Eu endoidei com a ideia de ser amiga de todo mundo e dar o meu melhor nos estudos, mas fui me acostumando aos poucos, embora ainda errasse em muitas coisas, de muitas maneiras. Foi muito divertido conhecer pessoas e reorganizar minha rotina (embora eu esteja generalizando demais essa história), eu estava indo bem até. A rotina era cansativa mas eu aproveitava desde a ida até a volta da escola conversando com meus amigos. Cantávamos, brincávamos, gritávamos muito, seja dentro dos corredores, seja no meio da rua. Não lembro de tudo o que fiz, nem o que pensei, quando começou a quarentena, só que esperava que acabasse logo. Hoje, três meses depois eu gostaria de ter comprado uma passagem para a Nova Zelândia com meu dinheiro imaginário. 

Eu fui me organizando com o passar dos dias, sempre pensando que eu tinha que aproveitar bem meu tempo para estudar estudar estudar estudar. Mas isso foi ficando tão cansativo e chegando a tal ponto que só o esforço de olhar para um livro ou abrir uma vídeo-aula se tornou um pesadelo para mim. Então, eu decidi flexibilizar meu cronograma: estudar pouco, mas ser eficiente e ter tempo para lazer. Com isso eu entendi que eu não sou nem de longe uma Sawako ou Misaki, personagens que ficam psicologicamente bem mesmo depois de passar um dia inteiro estudando. Isso não é saudável. E pouco a pouco venho me permitindo assistir mais filmes com meus irmãos e perder mais horas jogando e conversando com meus amigos.


Não está sendo fácil lidar com tantas notícias ruins ao mesmo tempo e estudar e estar bem e socializar. Mas se tem uma coisa que eu posso dizer para você que está lendo é: estipule metas, mas não se cobre tanto. Você sabe que precisa estudar? Faça isso, aprenda e leve no seu ritmo. Precisa fazer mais exercícios, ler mais ou, quem sabe, começar um curso? Porque não? Eu aprendi algo com um certo episódio de Voltron: concentre sua mente numa atividade para não enlouquecer enquanto estiver vagando pelo universo sem expectativa de salvamento. O universo é enorme elevado ao quadrado e somos apenas grãos de areia que acham que fazem alguma diferença na contagem, mas no nosso planeta, no nosso país, somos alguma coisa. E somos ainda mais mudando o referencial. Então, se desliga um pouco do universo e se ligue mais um pouco em você, nas pessoas a sua volta, nos contextos dos seus de um mesmo estado ou país se isso te faz bem. Lute por alguma coisa (em casa) enquanto lutam para tirar você daí com saúde e proteção.

4 comentários:

  1. Que ponto de vista incrível de tudo!

    ResponderExcluir
  2. Nossa, está sendo tão difícil pensar em estudos, acho que o psicológico vai ficando cada vez mais defasado, sabe? Não sei te explicar
    Mas ótimo seu texto e revela muito do que a gente tem no coração durante esse ano
    quem imaginou que a gente teria que passar por tudo isso?

    Beijocas da Pâm
    Blog Interrupted Dreamer

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Entendo completamente, estudar vem sendo um desafio com tantas coisas querendo tirar nossa atenção. Obrigada pelo feedback!

      Excluir